Dom António Afonso de Miranda era Bispo da Diocese de Lorena, Estado de São Paulo, Brasil, em 1976. Ele tinha recebido, em primeira mão, a Exortação Apostólica Evangelii Nuntiandi, do Papa Paulo VI. Impressionado com o conteúdo deste documento, ele chamou-me, Pe. Jonas Abib, e disse-me: “Este documento é muito sério. É preciso colocá-lo em prática”. E logo me apontou o número 44 daquele documento:
“Verifica-se que as condições do mundo atual tornam cada vez mais urgente o ensino catequético, sob a forma de um catecumenato, para numerosos jovens e adultos que, tocados pela graça, descobrem pouco a pouco o rosto de Cristo e experimentam a necessidade de a Ele se entregar”(EN 44)
Apontando-me este excerto, Dom António acrescentou: “Os batizados não são evangelizados. Como você trabalha com jovens, comece com eles porque com os jovens é mais fácil”. O envio do Bispo Diocesano resultou num trabalho intenso que na época se chamou de “Catecumenato”. Aqueles jovens receberam uma sólida formação na doutrina da Igreja e na vivência do Evangelho.
Os factos demonstravam que havia inspiração na designação de Dom António. As palavras indicadas na Evangelii Nuntiandi aconteceram ao pé da letra. Aqueles jovens entusiasmaram-se, foram tocados pela graça, descobriram de maneira nova a pessoa de Cristo e sentiram necessidade de se entregarem a Ele.
Após dois anos de “Catecumenato”, aqueles jovens estavam preparados para um passo à frente. Eu, então, lancei-lhes um desafio: ”Quem está disposto a deixar sua casa para vir e viver em comunidade, para realizar comigo este tipo de trabalho, que estou fazendo com vocês?”.
No dia dois de fevereiro de 1978, um grupo começava a viver em Comunidade.
Neste momento, Dom António já tinha sido transferido para a Diocese de Campanha, Estado de Minas Gerais, e D. João Hipólito de Morais tornou-se Bispo da Diocese de Lorena, Estado de São Paulo. Foi ele quem nos acolheu e nos deu permissão para começar esta experiência de Vida em Comunidade. Naquele momento, nem imaginávamos o que haveríamos de ser … mas, a mão de Deus estava aí.
Olhando para a história, hoje reconhecemos: aí estava o nosso chamamento e o nosso envio. As palavras de Dom António foram as palavras fundantes: “Os batizados não são evangelizados. Comece com os jovens porque com os jovens é mais fácil”.
Hoje percebemos: a Canção Nova nasceu daquele pedido do bispo diocesano, que, com a Exortação Apostólica Evangelii Nuntiandi nas mãos, nos enviava para evangelizar.
Nascemos desta exortação apostólica e para realizar o seu conteúdo.
Quando Dom António nos apontou o número 44 deste documento, certamente ele não se apercebeu de que o número 45 falava justamente do uso dos Meios de Comunicação Social para a Evangelização. O número 45 diz textualmente:
“No nosso século tão marcado pelos ‘mas media’ ou meios de comunicação social, o primeiro anúncio, a catequese ou o aprofundamento ulterior da fé, não podem deixar de se servir destes meios, conforme já tivemos ocasião de acentuar.
Postos ao serviço do Evangelho, tais meios são susceptíveis de ampliar, quase até o infinito, o campo para poder ser ouvida a Palavra de Deus e fazem com que a Boa Nova chegue a milhões de pessoas. A Igreja viria a sentir-se culpável diante de seu Senhor, se ela não lançasse mão destes meios potentes que a inteligência humana torna cada dia mais aperfeiçoados. É servindo-se deles que ela ´apregoa sobre os terraços’, a mensagem de que ela é depositária. Neles ela encontra uma versão moderna e eficaz do púlpito. Graças a eles ela consegue falar às multidões.
Entretanto, o uso dos meios de Comunicação Social para a Evangelização comporta uma exigência a ser atendida: é que a mensagem evangélica, através deles, deverá chegar sim às multidões de homens; mas, com a capacidade de penetrar na consciência de cada um desses homens, de se depositar nos corações de cada um deles, como se cada um fosse de facto o único com tudo aquilo que tem de mais singular e pessoal, a atingir com tal mensagem e do qual obter para esta uma adesão, um compromisso realmente pessoal.”(EN 45)
Nós também, só depois de algum tempo em que já estávamos a atuar nos meios de comunicação, é que nos apercebemos da ligação entre o número 44 que fala de um catecumenato e o número 45 que aponta os meios de comunicação para evangelizar.
Reconhecemos aí um desígnio de Deus. Ele destinava-nos para a Evangelização e indicava-nos também um campo específico: Evangelizar pelos meios de Comunicação.
O primeiro núcleo que começou a experiência de vida em comunidade era composto de oito jovens, entre rapazes e moças, eu, Pe. Jonas, e três religiosas. O nosso início já apontava o que Deus queria de nós como comunidade. Era um grupo bem diversificado: rapazes e raparigas, padre, religiosas. Doze pessoas. Homens e mulheres, de diferentes estados de vida, vivendo em comunidade com uma finalidade apostólica.
Desde o início, caminhámos diante dos olhos daquele a quem foi dado o carisma de “ver e discernir”. Nosso bispo, D. João Hipólito de Moraes, queria-nos a caminhar, mas sempre debaixo de seu olhar.

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